Em busca do sistema de saúde perfeito
Stephen Stefani, médico oncologista, especialista em Auditoria Médica. Sócio da SBAM. Autor do livro “Saúde (em) Crônica"
As incertezas econômicas e o aumento dos custos continuam a exercer pressão significativa sobre os sistemas de saúde em todo mundo. Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população e a crescente prevalência de doenças crônicas estão aumentando a demanda por serviços médicos, exacerbando o estresse sobre governos, seguradoras e provedores de saúde. Muitos países estão lutando para descobrir como financiar seus sistemas de saúde de forma sustentável, garantindo acesso equitativo aos cuidados. Tive a oportunidade de coordenar um seminário em conjunto com o professor Mark Brittnel há alguns anos. Em seu livro In Search of the Perfect Health System (tradução livre para “Em busca do sistema de saúde perfeito”) o britânico estudou 60 países. É frustrante saber que a maioria dos sistemas do mundo são lentos e burocráticos e, ainda pior, com redundâncias e desperdícios. Há necessidade de criatividade e talento para compor solução que consiga entregar medicamentos sofisticados, como terapias genéticas que custam R$ 17 milhões para um paciente, e ainda remédios de uso diário para uma porcentagem crescente de pessoas que tem doenças comuns. A resposta mais lógica seria investir em prevenção, mas que surtiria efeito somente após muitos anos.
Para lidar com esses desafios, os formuladores de políticas precisarão implementar estratégias de contenção de custos, incluindo modelos de cuidados baseados em valor e estruturas de pagamento alternativas. Essas abordagens priorizam os resultados dos pacientes ao invés de volume de serviços, incentivando a eficiência e a eficácia na prestação de cuidados. No entanto, a transição para novos modelos é complexa, exigindo alinhamento entre indústrias de insumos médicos, reguladores, provedores e pagadores. A experiência em câncer que o grupo Oncoclinicas oferece é uma alternativa interessante: o alinhamento assistencial com fonte pagadora é estabelecido com protocolos precocemente, no qual o debate cientifico, regulatório e de custo-efetividade são debatidos, centrado no beneficio ao paciente. Modelos de parceira tem potencial construtivo muito maior do que sistemas fragmentados.
Além disso, é fundamental equilíbrio entre força de trabalho e investimentos em infraestrutura de saúde. Inundar o sistema com profissionais sem estrutura adequada é oferecer uma ilusão para população, tão carente de soluções, que passa a acreditar que se segurar em folhas vai prevenir a queda da árvore. Aumentar uma engrenagem isolada não resolve o problema de um motor insuficiente.
Abordar ineficiências sistêmicas, ao mesmo tempo que se alavanca novas estratégias será um desafio crítico, mas essencial para garantir um ecossistema de saúde minimamente mais sustentável e resiliente.
Artigo publicado no Jornal do Comércio de 10/abril/2025