O que antes poderia estar encoberto, disfarçado ou irrelevante, há pouco mais de 02 anos as matérias sobre Saúde Mental vem tomando posições cada vez mais altas nos tópicos de discussões de custos e de impactos gerais na saúde. Na cadeia suplementar não seria diferente: com a expansão do conhecimento a respeito dos fenômenos psiquiátricos e sociopsicológicos, adicionando ao tempo uma pandemia viral nunca antes experimentada pela atual geração de pessoas, os atendimentos nas especialidades que atribuem cuidado ao portador de sofrimento mental está em crescimento exponencial, e sem previsão de controle.
Nos últimos 10 anos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) esclarece, em seu mapa assistencial, a utilização dos serviços em saúde mental com valores surpreendentes: Aumento de 80% nas consultas em psiquiatria; 199% em psicologia e 276% em terapia ocupacional, por exemplo. É nítido observar o sobreuso da rede, que ativamente necessita credenciar e agregar mais profissionais para conseguir estabelecer uma boa oferta de assistência. No mundo, segundo o relatório COVID-19 Health Care Workers Study (HEROES) uma porcentagem entre 14,7% e 22% dos trabalhadores de saúde em 2020 possuíam critérios para episódio depressivo, e até 15% cursaram com ideação suicida. Além disso, um terço dos entrevistados não conseguiam atendimento ideal.
As desordens diversas que incluem fatores psicossociais, estresses ambientais e processamento de múltiplas informações favoreceram ao indivíduo a evolução de sintomas dignos de investigação e atenção. Somado a essa nova fatia da carteira de vidas, os usuários crônicos continuam exacerbando ou tiveram suas condições desestabilizadas diante do cenário oportunista como a pandemia. Em 2019, quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade. Os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade.
A ANS, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização PanAmericana de Saúde (OPAS) já dedicaram tempo e conteúdo de exposição aos estudiosos em alerta sobre o índice de acometimento de doença mental no mundo, sendo o Brasil o país de destaque em prevalência de depressão.
Faz-se improrrogável o debate extenso sobre a reorganização do espaço e das vias de acesso aos pacientes de forma correta. As internações psiquiátricas sobressaltam os índices de capacidade dos leitos disponíveis e os hospitais gerais não possuem estrutura adequada para recepção destes doentes, causando um colapso no direcionamento seguro para um tratamento de sucesso. Muito se discute sobre diárias e insumos, pouco se controla a distribuição equiparada por especialidades.
Em conclusão, estimando uma contínua demanda de atenção para estes serviços, a sugestão para o melhor desenvolvimento do cuidado em saúde mental é que a cadeira gestora possa ampliar o horizonte das oportunidades que o sistema consegue abraçar, para otimizar e agilizar a jornada deste paciente, que inicia um sofrimento mental e desorganiza com grande piora em lupa ampliada diante de assistência não especializada ou ausência de suporte básico para orientação de apoio. Mudanças nas regulamentações, nas coberturas e nas atividades oferecidas pela saúde suplementar merecem palco de destaque para estudo de risco e benefícios. Além disso, a conhecida promoção e prevenção permanece ainda como uma conveniência zelosa e orçamento saudável aos cofres.
Thaíssa Daulis Perna - 17 de maio de 2023
Gerente Médica em Auditoria